Observando a faixa etária do público que
chega a procurar a psicoterapia, podemos afirmar que os idosos estão em
porcentagem mínima. Mas nos perguntamos, será que essas pessoas “desistem”? Ou
não o colocamos como público-alvo?
Falando da teoria psicanalítica e sua
aplicação, Freud nos fala que a Psicanálise fracassa com pessoas muito idosas,
pois essas apresentam um acúmulo de material psíquico que demandaria um enorme
tempo para se trabalhar e ao terminar já estariam em um período da vida que não
se dá valor a saúde nervosa.
E talvez esse seja o ponto, o valor que
é dado nessa faixa etária a saúde dita nervosa.
Alguns teóricos, ainda atualmente,
consideram que a pessoa idosa tem algumas características que inviabilizam o
tratamento. Porém percebemos e encaro que devemos colocar como alvo, as
características que despertam a necessidade desses indivíduos em procurarem uma
ajuda profissional. São várias as questões que surgem nessa idade, muitas vezes
exclusão da própria sociedade, dificuldade de socialização, autoestima
comprometida, lidar com limitações sociais, limitações do próprio corpo, dentre
vários outros fatores.
Na terceira idade, surgem várias
dificuldades, entre elas a física, que acaba por limitar. Lendo Mucida (2004),
entendemos que na velhice “o idoso se depara com um corpo fragmentado,
despedaçado, corpo para morte”.
E muitas vezes o idoso se enxerga
justamente dessa forma, esperando a morte. E a imagem que o outro transmite
para esse sujeito, vai ser de fundamental importância para facilitar ou
prejudicar o processo do envelhecer. Pois são inúmeras as possibilidades desse
processo, dependendo da forma que é vista, que é vivenciada e encarada.
Percebemos claramente que a perspectiva
da vida aumentou no decorrer do tempo. E “ser idoso na atualidade é deparar-se
com as mais diversas formas de desamparo, uma vez que a lógica predominante é a
do mercado.” “Valorizam-se as novidades, a juventude, a beleza, o inovador”.
Com isso, dificulta o espaço para quem é velho.
Mucida
(2004) fala que a velhice é um período da vida que nos escancara o real da
castração e a cultura em que vivemos atrela aos velhos significantes como
improdutividade, inutilidade, morte. E
lidar com tudo isso vai ser uma grande questão para esses sujeitos, a velhice
conjugada a doença. Como escutamos falar, “é mal da idade”.
São
as possibilidades de envelhecer e de encarar esse processo de forma positiva,
que devemos mostrar a essas pessoas, independente do ambiente que estamos nos
relacionando com eles.
O envelhecimento tem certa ambiguidade,
pois o sujeito lida com perdas, seja ela física, social ou psicológica, mas vão
adquirindo experiência ao longo de suas vidas, sendo impossível se conseguir,
se não vivenciando-as.
É importante pensar que independente da
idade do paciente, deve-se apostar nele enquanto sujeito capaz de se relacionar
melhor consigo mesmo e com o outro, sendo indiferente o tempo de vida que lhe
reste.
O que devemos observar e ter claro é que
estamos falando do sujeito do inconsciente, o objeto de estudo da psicanálise,
e este não chega a envelhecer.
Katherine Albuquerque
Referências para posteriores leituras:
FREUD,
Sigmund. (1898). A Sexualidade na
Etiologia da Neurose. Obras Completas, ESB, v. III. Rio de Janeiro. Imago,
1976.
______________.
(1912). A Dinâmica da Transferência.
Obras Completas, ESB, v. XII. Rio de Janeiro. Imago, 1969.
MUCIDA,
Angela. O Sujeito não envelhece:
psicanálise e velhice. Belo Horizonte. Autêntica, 2004.
REIS
FILHO, José Tiago dos; SANTOS, Gisela de Carvalho. O Desafio da Clínica Psicanalítica com Idosos. Psicologia Clínica,
Rio de Janeiro, v. 19, n. 2, p.45-55, 2007.