segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Por uma clínica menos tradicional

A clínica psicológica é compreendida como um lugar de produção de saber e da prática do psicólogo. Originalmente herdou o modelo clínico da medicina, onde cabia ao profissional primeiramente observar e compreender, para posteriormente intervir, tratar, curar. Tratava-se, portanto, de uma prática higienista.

Desse modo, por um bom tempo a psicologia clínica esteve atrelada a um estilo tradicional, limitado e individualista, e consequentemente longe dos campos sociais.
Com o surgimento da psicanálise e a proposta de uma abordagem fundamentada na escuta, a pratica clínica passa a estar vinculada à demanda do sujeito, e não necessariamente a uma patologia. 

Por mais que o individualismo tenha sido necessário para que a psicologia conseguisse o status de ciência, ele se mostra como um grande obstáculo na atualidade, justamente por limitar o psicólogo ao modelo tradicional da clínica, onde este fica restrito aos limites físicos do consultório.

Acontece que cada vez mais existe a necessidade de expandir os limites da clínica fazendo com que ela se debruce sobre o social, que vá ao encontro do outro, e não apenas espere que este o procure. Permanecer em um modelo tradicional é negar, a um grande número sujeitos, a possibilidade de acolhimento, de escuta do sofrimento e até mesmo de uma nova posição subjetiva frente ao sofrimento.

De acordo com uma pesquisa realizada no Brasil pelo conselho Federal de psicologia, o que está fazendo com que os psicólogos saiam da clínica tradicional é a alta demanda da sociedade em diversos setores, como saúde publica, hospitais, ambulatórios gerais e psiquiátricos, unidades básicas de saúde, organizações, escolas e comunidades.

Em contrapartida, tem-se observado que por mais que as áreas de atuação do psicólogo tenham aumentado, a forma como o trabalho tem sido feito ainda está associada ao modelo clínico clássico. Isto provavelmente se dá pela forte tradição da psicologia e ausência de recursos para capacitação dos profissionais, além da falta de atualização das disciplinas que contemplem essa temática na graduação e em cursos de especialização de forma mais ampliada.


A clínica se constitui na relação com o outro, ser social. É preciso que o psicólogo vá ao encontro das subjetividades onde elas se manifestam, firmando a cada dia seu compromisso social. Os limites da clínica estão antes de tudo vinculados à possibilidade de realizar uma escuta e um acolhimento de qualidade, que ao local em que esta se dá. Trata-se muito mais de uma ética do cuidado, do que de referenciais tradicionais fechados que reduzem as potencialidades da clínica.

Leonardo Vasconcelos 
Referências: