A clínica
psicológica é compreendida como um lugar de produção de saber e da prática do
psicólogo. Originalmente herdou o modelo clínico da medicina, onde
cabia ao profissional primeiramente observar e compreender, para posteriormente
intervir, tratar, curar. Tratava-se, portanto, de uma prática higienista.
Desse
modo, por um bom tempo a psicologia clínica esteve atrelada a um estilo
tradicional, limitado e individualista, e consequentemente longe dos campos
sociais.
Com o surgimento da psicanálise e a proposta de uma abordagem
fundamentada na escuta, a pratica clínica passa a estar vinculada à demanda do
sujeito, e não necessariamente a uma patologia.
Por mais que o individualismo tenha sido necessário para que a
psicologia conseguisse o status de ciência, ele se mostra como um grande
obstáculo na atualidade, justamente por limitar o psicólogo ao modelo
tradicional da clínica, onde este fica restrito aos limites físicos do
consultório.
Acontece que cada vez mais existe a necessidade de expandir os limites da
clínica fazendo com que ela se debruce sobre o social, que vá ao encontro do
outro, e não apenas espere que este o procure. Permanecer em um
modelo tradicional é negar, a um
grande número sujeitos, a possibilidade de acolhimento, de escuta do sofrimento
e até mesmo de uma nova posição
subjetiva frente ao sofrimento.
De acordo com uma pesquisa realizada no Brasil pelo conselho Federal de
psicologia, o que está fazendo com que os psicólogos saiam da clínica
tradicional é a alta demanda da sociedade em diversos setores, como saúde
publica, hospitais, ambulatórios gerais e psiquiátricos, unidades básicas de
saúde, organizações, escolas e comunidades.
Em contrapartida, tem-se observado que por mais que as áreas de atuação
do psicólogo tenham aumentado, a forma como o trabalho tem sido feito ainda
está associada ao modelo clínico clássico. Isto provavelmente se dá pela forte
tradição da psicologia e ausência de recursos para capacitação dos
profissionais, além da falta de atualização das disciplinas que contemplem essa
temática na graduação e em cursos de especialização de forma mais ampliada.
A clínica se constitui na relação com o outro, ser social. É preciso que o psicólogo vá ao encontro das
subjetividades onde elas se manifestam, firmando a cada dia seu compromisso
social. Os limites da clínica estão antes de tudo vinculados à possibilidade de
realizar uma escuta e um acolhimento de qualidade, que ao local em que esta se
dá. Trata-se muito mais de uma ética do cuidado, do que de referenciais
tradicionais fechados que reduzem as
potencialidades da clínica.
Leonardo Vasconcelos
Referências: