quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Como Freud Desenvolveu a Psicanálise

(Texto na integra)

A Psicanálise é uma disciplina científica desenvolvida por Sigmund Freud. A teoria psicanalítica é composta por um corpo de hipóteses a respeito do funcionamento e desenvolvimento da mente do homem, ela se interessa tanto pelo funcionamento mental normal como pelo patológico, embora a prática da psicanálise consista no tratamento de pessoas que se acham enfermas.
Duas hipóteses fundamentais da psicanálise são:
1)             Princípio do determinismo psíquico ou da causalidade.
2)      Proposição de que a consciência é antes um atributo excepcional
do que um atributo comum dos processos psíquicos. Os processos
mentais inconscientes são de maior frequência e significado no
funcionamento mental normal, bem como no anormal.

Estas 2 hipóteses fundamentais se relacionam, mutuamente: "o princípio do determinismo psíquico baseia-se em que os fenômenos mentais têm total conexão com todos os outros fenômenos mentais que os precedam? existindo uma total continuidade na vida mental. Assim, tanto na mente como na natureza física que nos cerca nada acontece por acaso, cada evento psíquico é determinado por aqueles que o precederam. Dessa maneira não existe fenômeno psíquico acidental ou sem significação. Cada sintoma neurótico é provocado por outros processos mentais, apesar do fato de que o próprio paciente frequentemente considere o sintoma como estranho a seu ser como um todo e completamente desligado do resto de sua vida mental, contudo, as conexões existem e são demonstráveis, apesar de o paciente não se dar conta de sua presença.
Neste ponto, percebemos que estamos falando não só do princípio do determinismo psíquico como também, da Segunda hipótese, que diz que os processos mentais inconscientes são de grande frequência. Existe um grande significado nos processos mentais inconscientes, isto é, dos quais o indivíduo não se dá conta.
Para Freud, até mesmo os sonhos são uma consequência de outros eventos psíquicos e cada sonho mantém uma relação coerente e significativa com o restante da vida psíquica da pessoa que sonha.
A relação entre as 2 hipóteses é tão íntima que dificilmente se pode examinar uma, sem suscitar a outra. O fato de tantas coisas que acontecem em nossa mente serem desconhecidas para nós (inconscientes) é responsável pela aparente descontinuidade em nossa vida mental. Quando um pensamento, um sentimento, um esquecimento acidental, um sonho ou um sintoma parecem não se relacionar com algo que aconteceu antes na mente, isso significa que sua conexão causal se apresenta em algum processo mental inconsciente em vez de num processo consciente. Se se conseguir descobrir a causa ou causas inconscientes, então todas as descontinuidades aparentes desaparecem e a cadeia causal ou sequência, torna-se clara. Ex: Uma pessoa surpreende-se cantando uma música e pensa como ou porque,ela estaria cantarolando exatamente aquela música que ela não ouve há algum tempo, outra pessoa que está por perto, diz que a música acabou de ser tocada no rádio, só que ela estava tão abstraída em seus pensamentos, que não se deu conta disso, a música ficou no seu inconsciente, para essa pessoa sua experiência subjetiva foi de uma descontinuidade em seus pensamentos, sendo necessário o testemunho de outra pessoa para remover a aparência de descontinuidade e tornar clara a cadeia causal. Este é um exemplo muito simples da descoberta de um processo mental inconsciente.
Não existe um método direto que nos permita observar os processos mentais inconscientes, todos os métodos para estudar tais fenômenos são indiretos.O método mais eficaz e de maior confiança de que dispomos para estudar os processos mentais inconscientes é aquele desenvolvido durante anos por Freud, ou seja, a PSICANÁLISE.
Na época em que Freud desenvolveu a sua psicanálise, a medicina ainda era um tanto rudimentar, problemas psíquicos eram frequentemente tratados por neurologistas. Freud, formado médico neuro anatomista e neurologista, estudou e utilizou os métodos de tratamento para histeria preconizados pelo grande neurologista da época Erb, que eram considerados os mais científicos e que estavam à disposição, que eram os tratamentos elétricos, mas Freud concluiu que esse tipo de tratamento para histeria era inútil.
Freud foi para Paris em 1885, onde estudou na clínica do Dr. Charcot, com este aprendeu a técnica da hipnose para cura da histeria. Como outros neurologistas de seu tempo ele procurou curar seus pacientes pela sugestão hipnótica com diferentes graus de êxito, foi mais ou menos nessa mesma época que seu amigo Breuer, que era médico clínico de grande reputação, lhe contou uma experiência que fizera com uma paciente histérica anos antes, ele relatou que os sintomas histéricos da mulher desapareceram quando ela foi capaz, em estado hipnótico, de recordar a experiência e emoção associada que conduzira ao sintoma em questão, seus sintomas puderam ser afastados ao conversar sobre eles sob hipnose. Entusiasmado, Freud, Aplicou esse método no tratamento de seus próprios pacientes histéricos com bons resultados, ele foi se aperfeiçoando cada vez mais e estudou também os métodos hipnóticos do francês Bernheim, que por sua vez, demonstrou que a amnésia de um paciente durante as suas experiências hipnóticas pudia ser removida sem voltar a hipnotizar o paciente, forçando-o a recordar aquilo que afirmava que não podia. Se a insistência fosse bastante persistente e poderosa o paciente acabava por relembrar o que havia esquecido sem ser rehipnotizado. Freud, deduziu com base nisso, que poderia ser capaz também de remover a amnésia histérica sem hipnose e começou a fazê-lo. À partir desse início, desenvolveu a técnica psicanalítica, cuja a essência consiste em que o paciente fale para o psicanalista qualquer pensamento, sem exceção, que lhe venha à mente sem necessidade de uma orientação consciente ou uma censura.
O Grande valor de o paciente renunciar ao controle consciente de seus pensamentos é que tudo o que ele diz, é determinado por motivos e pensamentos inconscientes. Desse modo Freud ouvindo as associações livres (do consciente) do paciente, ele era capaz de formar uma imagem do que inconscientemente estava ocorrendo na mente do paciente; e durante anos usando esse método ele concluiu que não só os sintomas histéricos poderiam ser cuidados, mas também muitos outros aspectos normais ou patológicos  do  comportamento  e  do  pensamento,  que  eram   o   resultado  do  que inconscientemente estava acontecendo na mente do indivíduo que os apresentava.
No estudo dos fenômenos mentais inconscientes, Freud descobriu que eles poderiam ser divididos em dois grupos:
a)Pré-conscientes: Que poderiam se tornar conscientes facilmente, apenas com um esforço de atenção ou memória.
b)Inconscientes: Barrados da consciência por uma força considerável e que só se tornariam conscientes através de um esforço muito grande. Freud demonstrou que o inconsciente exerce a mais significativa influência no funcionamento mental, e demonstrou ainda, que os processos inconscientes podem ser bastante comparáveis as conscientes em precisão e complexidade. Para exemplificar, podemos citar a sugestão pós-hipnótica, um paciente durante seu transe hipnótico é induzido a uqe depois de sair desse transe, dê corda em seu relógio, é induzido também a não se lembrar do que aconteceu durante esse transe hipnótico. Quando o terapeuta o acorda, ele ímadiatamente começa a dar corda no relógio sem saber porquê, esta experiência demonstra claramente que um processo mental verdadeiramente inconsciente pode ter um efeito dinâmico ou motor sobre o pensamento e o comportamento.
Baseado em sua técnica psicanalítica, Freud, desenvolveu um estudo minucioso sobre os sonhos, e este estudo se tornou também uma de suas maiores realizações. Seu livro "A Interpretação dos sonhos", situa-se entre os maiores e mais revolucionários livros científicos de todos os tempos. Freud demonstrou que por trás de todo sonho existem pensamentos e desejos inconscientes ativos. Demonstrou também que no estado de vigília que precede o sono, ocorre um fenômeno que chamamos de lapso: Lapso de memória, de linguagem, de escrita e similaresque foram chamados de atos errôneos ou atos falhos, ou seja, é fácil esquecer algo desagradável ou esquecer um encontro com uma pessoa desagradável.
Outro aspecto evidente de que os processos mentais inconscientes do indivíduo são de extrema importância é que o comportamento de uma pessoa pode parecer óbvio para o observador, porém, o próprio indivíduo desconhece. Se o paciente é portador de uma cegueira histérica sabemos que inconscientemente existe algo que ele não deseja ver, ou que sua consciência o proíbe de olhar, nós sabemos, mas ele não!
Concluindo, sabemos hoje, através das teorias de Freud, que consciência e funcionamento mental não são sinônimos, sabemos também que a consciência não necessita necessariamente participar das atividades mentais que são decisivas na determinação do comportamento do indivíduo, tais atividades podem ser completamente inconscientes. Para tratar as patologias, Freud desenvolveu, à partir do estudo da hipnose, a qual elimina a ação do consciente, a técnica psicanalítica, que promove a expressão do inconsciente do paciente, que se abstrai da realidade sem que se recorra à hipnose. Essa técnica revolucionou o mundo dos estudos e tratamentos da mente humana.


Referência: Sociedade Brasileira de Psicologia Integrativa

Link: http://www.sbpi.org.br/webc.asp