segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Depressão: Estamos tratando o sintoma ou a causa?




O CID 10 descreve a Depressão (F32 - F33) da seguinte forma: 

“Nos episódios típicos de cada um dos três graus de depressão: leve, moderado ou grave, o paciente apresenta um rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição da atividade. Existe alteração da capacidade de experimentar o prazer, perda de interesse, diminuição da capacidade de concentração, associadas em geral à fadiga importante, mesmo após um esforço mínimo. Observam-se em geral problemas do sono e diminuição do apetite. Existe quase sempre uma diminuição da auto-estima e da autoconfiança e freqüentemente idéias de culpabilidade e ou de indignidade, mesmo nas formas leves. O humor depressivo varia pouco de dia para dia ou segundo as circunstâncias e pode se acompanhar de sintomas ditos “somáticos”, por exemplo perda de interesse ou prazer, despertar matinal precoce, várias horas antes da hora habitual de despertar, agravamento matinal da depressão, lentidão psicomotora importante, agitação, perda de apetite, perda de peso e perda da libido. O número e a gravidade dos sintomas permitem determinar três graus de um episódio depressivo: leve, moderado e grave.”

Acho que várias pessoas conhecem alguém que está ou esteve com depressão, ou tem alguma história para contar, até mesmo pessoal. Mas o que me pergunto, será que hoje em dia não podemos mais ficar tristes? Vivenciar um luto? Ter dificuldade em lidar com uma perda, por exemplo, sem precisar se tornar um ser depressivo? 

O sujeito está passando por uma grande perda, vivenciando o luto. Passar por todo esse processo de encarar essa situação, não vai ser diferente para cada pessoa?

Algo que me assusta hoje em dia é a grande necessidade de classificação, todo dia surge um novo transtorno, cada um mais inusitado. Diagnosticar, diagnosticar... Classificar, classificar... De certa forma, ótimo! Estudos avançam, conhecimentos se constroem. Mas a minha preocupação é a possível consequência de tudo isso, perder nossa singularidade. O classificar para rotular, para se prender na sintomatologia e se perder o contexto pessoal, a individualidade.

No século XX a indústria farmacêutica cresceu significativamente e com ela a produção de antidepressivos. Várias propagandas e campanhas realizadas pelos laboratórios junto aos médicos, aumentam o diagnóstico da depressão. E tudo isso pode se caminhar por dois lados, o primeiro pode influenciar para uma melhor visualização do problema, aumentando o espaço para discussão em diversas áreas. Porém tem o outro lado, que vejo como negativo, passar uma imagem mais superficial. 

Não deixo de lado a importância do acompanhamento com referências biológicas e uso de fármacos, identificar os sintomas, porém não encaro como a solução da questão. Nem limitar em uma categoria nosológica, e sim buscar o que desenvolve esses processos, revelar o que levou a tal identificação. 

Atualmente somos seres em constante produção, cada vez mais brigando com o relógio, sujeitos produtivos, ativos, cobrados pela sociedade e por si próprio. Porém as vezes esquecemos que temos limites, que podem mexer com várias questões, como autoestima, a angústia, o medo, a frustração, dentre vários outros. Que não estou excluindo que podem sim, levar a depressão. Porém os sintomas podem desaparecer até com uma certa facilidade, mas e a causa deles?

Não podemos nos limitar a classificação, pois acredito que no tratamento da depressão deve ser ressaltado a singularidade do sujeito. Nem toda tristeza é depressão, nem todo luto precisa se tornar um quadro depressivo.

Katherine Albuquerque 

Referências:

MONTEIRO, Kátia Cristine Cavalcante and LAGE, Ana Maria Vieira. Depressão: uma 'psicopatolologia' classificada nos manuais de psiquiatria. Psicol. cienc. prof. [online]. 2007, vol.27, n.1, pp. 106-119. ISSN 1414-9893. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932007000100009.