A
ritalina é a apresentação comercial do Metilfenidato, substância química
aplicada como fármaco, estimulante do sistema nervoso central, utilizada em sua
maioria no tratamento do TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade).
O TDAH é considerado um
transtorno neurobiológico que aparece geralmente na infância, sendo
caracterizado por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade.
O medicamento se
popularizou no tratamento de crianças com TDAH, ganhando a atenção da mídia e
ampliando rapidamente sua divulgação. Há um grande interesse da indústria
farmacêutica em divulgar resultados e vender seu produto, a ritalina, como medicamento
adequado para conter os sintomas do TDAH, mascarando muitas vezes os efeitos
colaterais da droga. Com isto, o diagnóstico em crianças e adolescentes teve um
aumento epidêmico nos últimos anos.
Além do mecanismo de
ação da ritalina ainda não ser bem elucidado, está havendo uma enorme
preocupação dos profissionais de saúde quanto à massificação do uso de
substâncias psicoativas, principalmente em crianças na primeira infância,
causando exposição muitas vezes desnecessária à riscos provocados pelo medicamento.
Os possíveis efeitos
colaterais do uso medicamento são inúmeros. Os mais comuns são insônia,
diminuição do apetite e nervosismo, além de dores de cabeça, irritabilidade,
alterações de humor , tontura, dor de estômago, taquicardia e inquietação. Na
própria bula as contra-indicações se referem a sintomas como ansiedade e
agitação, sintomas estes que estão quase sempre presentes na TDAH.
Consultando a bula do
medicamento, pode-se observar que a ritalina não deve ser utilizada em crianças
com menos de seis anos de idade e que o tratamento com a droga não deve ser
indicado para todos os casos de TDAH, mas sim em casos específicos que
justifiquem o uso da ritalina, o que não acontece atualmente. O uso crônico da
substância pode levar à tolerância acentuada e dependência psicológica com
graus variados de alterações comportamentais.
Apesar de conter alguns
sintomas da criança e aliviar momentaneamente os pais devido à preocupação em
relação ao comportamento dos filhos, precisamos pensar se realmente vale a pena
utilizarmos a ritalina como uma das formas de tratamento para o TDAH.
Esta reflexão não se
propõe a ir de encontro ao uso da medicação, pois se reconhece a importância
dos medicamentos no cuidado da saúde física e psíquica de crianças e adultos, como
complemento à outras formas de tratamento. O que devemos questionar é a
produção de patologias, categorizações e a excessiva medicação nas crianças,
diante da sociedade imediatista e repressora que estamos presenciando.
A vida contemporânea
exige muito das crianças, impedindo-as muitas vezes de se expressar ou até
mesmo de terem um tempo ocioso-criativo para serem simplesmente crianças. As
atividades e atribuições colocadas para elas atualmente são muitas vezes
excessivas, criando-se expectativas desmedidas e futuros fracassos.
Está havendo uma
patologização da experiência humana, onde criança não pode mais ser distraída,
quieta, sapeca ou sem limites, pois estes comportamentos são encarados por pais
e profissionais da educação e da saúde como inapropriados e desviantes, fazendo
assim uso da medicação para controlar estes comportamentos e adequar
socialmente a criança.
O uso da ritalina, de
acordo com uma pesquisa do Instituto de Medicina Social da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), aumentou 775% em dez anos no Brasil. Este é
um dado alarmante que precisa ser visto e estudado, pois o futuro das crianças
está em nossas mãos, e nelas está uma pílula mágica que promete milagres.
O diagnóstico rápido,
superficial e abrangente do TDAH e o tratamento com a ritalina parecem ter se
tornado o caminho mais fácil e rápido para resolver vários problemas da
infância, mas é importante que pensemos quais os efeitos deste tipo de
tratamento e que sociedade estamos por produzir diante de tantas restrições.
Elaine Carneiro
Referências: