segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Ritalina: você não é o que parece

A ritalina é a apresentação comercial do Metilfenidato, substância química aplicada como fármaco, estimulante do sistema nervoso central, utilizada em sua maioria no tratamento do TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).
O TDAH é considerado um transtorno neurobiológico que aparece geralmente na infância, sendo caracterizado por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade.
O medicamento se popularizou no tratamento de crianças com TDAH, ganhando a atenção da mídia e ampliando rapidamente sua divulgação. Há um grande interesse da indústria farmacêutica em divulgar resultados e vender seu produto, a ritalina, como medicamento adequado para conter os sintomas do TDAH, mascarando muitas vezes os efeitos colaterais da droga. Com isto, o diagnóstico em crianças e adolescentes teve um aumento epidêmico nos últimos anos.
Além do mecanismo de ação da ritalina ainda não ser bem elucidado, está havendo uma enorme preocupação dos profissionais de saúde quanto à massificação do uso de substâncias psicoativas, principalmente em crianças na primeira infância, causando exposição muitas vezes desnecessária à riscos provocados pelo medicamento.
Os possíveis efeitos colaterais do uso medicamento são inúmeros. Os mais comuns são insônia, diminuição do apetite e nervosismo, além de dores de cabeça, irritabilidade, alterações de humor , tontura, dor de estômago, taquicardia e inquietação. Na própria bula as contra-indicações se referem a sintomas como ansiedade e agitação, sintomas estes que estão quase sempre presentes na TDAH. 
Consultando a bula do medicamento, pode-se observar que a ritalina não deve ser utilizada em crianças com menos de seis anos de idade e que o tratamento com a droga não deve ser indicado para todos os casos de TDAH, mas sim em casos específicos que justifiquem o uso da ritalina, o que não acontece atualmente. O uso crônico da substância pode levar à tolerância acentuada e dependência psicológica com graus variados de alterações comportamentais. 
Apesar de conter alguns sintomas da criança e aliviar momentaneamente os pais devido à preocupação em relação ao comportamento dos filhos, precisamos pensar se realmente vale a pena utilizarmos a ritalina como uma das formas de tratamento para o TDAH.
Esta reflexão não se propõe a ir de encontro ao uso da medicação, pois se reconhece a importância dos medicamentos no cuidado da saúde física e psíquica de crianças e adultos, como complemento à outras formas de tratamento. O que devemos questionar é a produção de patologias, categorizações e a excessiva medicação nas crianças, diante da sociedade imediatista e repressora que estamos presenciando. 
A vida contemporânea exige muito das crianças, impedindo-as muitas vezes de se expressar ou até mesmo de terem um tempo ocioso-criativo para serem simplesmente crianças. As atividades e atribuições colocadas para elas atualmente são muitas vezes excessivas, criando-se expectativas desmedidas e futuros fracassos.
Está havendo uma patologização da experiência humana, onde criança não pode mais ser distraída, quieta, sapeca ou sem limites, pois estes comportamentos são encarados por pais e profissionais da educação e da saúde como inapropriados e desviantes, fazendo assim uso da medicação para controlar estes comportamentos e adequar socialmente a criança. 
O uso da ritalina, de acordo com uma pesquisa do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), aumentou 775% em dez anos no Brasil. Este é um dado alarmante que precisa ser visto e estudado, pois o futuro das crianças está em nossas mãos, e nelas está uma pílula mágica que promete milagres.

O diagnóstico rápido, superficial e abrangente do TDAH e o tratamento com a ritalina parecem ter se tornado o caminho mais fácil e rápido para resolver vários problemas da infância, mas é importante que pensemos quais os efeitos deste tipo de tratamento e que sociedade estamos por produzir diante de tantas restrições.
Elaine Carneiro 
Referências: