sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
Feliz ano novo!
Nós, que fazemos o infinito particular, estamos finalizando as publicações de 2014 e nos preparando para trazermos novidades e textos diversos em 2015.
Desejamos a todos um feliz ano novo, cheio de realizações e conquistas, saúde, paz e muitas felicidades.
Aguardem as novidades!
Boas festas e até breve!
quinta-feira, 18 de dezembro de 2014
Como Freud Desenvolveu a Psicanálise
(Texto na integra)
A Psicanálise é uma disciplina científica desenvolvida por Sigmund Freud. A
teoria psicanalítica é composta por um corpo de hipóteses a respeito do
funcionamento e desenvolvimento da mente do homem, ela se interessa tanto pelo funcionamento mental normal como pelo patológico,
embora a prática da psicanálise consista no tratamento de pessoas que se
acham enfermas.
Duas hipóteses
fundamentais da psicanálise são:
1)
Princípio do determinismo psíquico ou da causalidade.
2)
Proposição de que a
consciência é antes um atributo excepcional
do que um atributo comum dos processos psíquicos.
Os processos
mentais inconscientes são de maior frequência e significado no
funcionamento mental normal, bem como no anormal.
Estas 2
hipóteses fundamentais se relacionam, mutuamente: "o princípio do determinismo psíquico baseia-se em que os fenômenos mentais têm total conexão com todos os outros fenômenos mentais que os precedam? existindo uma total continuidade na vida mental. Assim, tanto na mente como na natureza
física que nos cerca nada acontece por acaso, cada evento psíquico é
determinado por aqueles que o precederam. Dessa maneira não existe fenômeno psíquico acidental ou sem
significação. Cada sintoma neurótico é provocado por outros processos mentais, apesar do fato de que o próprio
paciente frequentemente considere o
sintoma como estranho a seu ser como um todo e completamente desligado do resto
de sua vida mental, contudo, as conexões existem e são demonstráveis,
apesar de o paciente não se dar conta de sua presença.
Neste ponto,
percebemos que estamos falando não só do princípio do determinismo psíquico como também, da Segunda hipótese, que diz que os processos mentais inconscientes são de grande
frequência. Existe um grande significado
nos processos mentais inconscientes, isto é, dos quais o indivíduo não se dá conta.
Para Freud, até mesmo os sonhos são uma consequência de outros eventos
psíquicos e cada sonho mantém uma relação coerente e significativa com o
restante da vida psíquica da pessoa que sonha.
A relação entre as 2 hipóteses é tão íntima que dificilmente se pode examinar uma, sem suscitar a outra. O fato de tantas coisas que acontecem
em nossa mente serem desconhecidas para nós (inconscientes) é responsável pela aparente
descontinuidade em nossa vida mental.
Quando um pensamento, um sentimento, um esquecimento acidental, um sonho ou um sintoma parecem não se relacionar
com algo que aconteceu antes na mente,
isso significa que sua conexão causal se apresenta em algum processo mental inconsciente em vez de num
processo consciente. Se se conseguir descobrir a causa ou causas
inconscientes, então todas as
descontinuidades aparentes desaparecem e a cadeia causal ou sequência, torna-se
clara. Ex: Uma pessoa surpreende-se cantando
uma música e pensa como ou porque,ela
estaria cantarolando exatamente aquela música que ela não ouve há algum tempo, outra pessoa que está por perto, diz que a
música acabou de ser tocada no rádio, só que ela estava tão abstraída em seus
pensamentos, que não se deu conta disso, a música ficou no seu inconsciente, para essa pessoa sua experiência subjetiva foi de uma descontinuidade em seus pensamentos, sendo necessário o
testemunho de outra pessoa para
remover a aparência de descontinuidade e tornar clara a cadeia causal.
Este é um exemplo muito simples da descoberta de um processo mental inconsciente.
Não
existe um método direto que nos permita observar os processos mentais inconscientes, todos os métodos para estudar tais fenômenos são indiretos.O
método mais eficaz e de maior confiança de que dispomos para estudar os
processos mentais inconscientes é aquele desenvolvido durante anos por Freud, ou
seja, a PSICANÁLISE.
Na época em que Freud desenvolveu a sua psicanálise, a medicina ainda era um tanto rudimentar,
problemas psíquicos eram frequentemente tratados por neurologistas. Freud,
formado médico neuro anatomista e neurologista, estudou e utilizou os métodos de tratamento para histeria
preconizados pelo grande neurologista da época Erb, que eram considerados
os mais científicos e que estavam à
disposição, que eram os tratamentos elétricos, mas Freud concluiu que esse tipo
de tratamento para histeria era inútil.
Freud foi para Paris em 1885, onde estudou na clínica do Dr. Charcot, com este aprendeu a técnica da hipnose para cura da histeria. Como
outros neurologistas de seu tempo ele procurou
curar seus pacientes pela sugestão hipnótica com diferentes graus de êxito, foi
mais ou menos nessa mesma época que seu amigo Breuer, que era médico clínico de
grande reputação, lhe contou uma experiência que fizera com uma paciente histérica anos antes, ele relatou que os sintomas histéricos da mulher
desapareceram quando ela foi capaz, em estado
hipnótico, de recordar a experiência e emoção associada que conduzira ao sintoma em questão, seus sintomas puderam ser afastados ao
conversar sobre eles sob hipnose. Entusiasmado, Freud, Aplicou esse método no
tratamento de seus próprios pacientes histéricos com bons resultados, ele foi
se aperfeiçoando cada vez mais e estudou também os métodos hipnóticos do
francês Bernheim, que por sua vez, demonstrou que
a amnésia de um paciente durante as suas experiências hipnóticas pudia ser
removida sem voltar a hipnotizar o paciente, forçando-o a recordar aquilo que
afirmava que não podia. Se a
insistência fosse bastante persistente e poderosa o paciente acabava por relembrar o que havia esquecido sem ser
rehipnotizado. Freud, deduziu com base nisso, que poderia ser capaz também de
remover a amnésia histérica sem hipnose e começou a fazê-lo. À partir desse
início, desenvolveu a técnica psicanalítica, cuja a essência consiste em que o paciente
fale para o psicanalista qualquer pensamento, sem exceção, que lhe venha à mente
sem necessidade de uma orientação consciente ou uma censura.
O
Grande valor de o paciente renunciar ao controle consciente de seus
pensamentos é que tudo o que ele diz, é determinado por motivos e pensamentos inconscientes. Desse modo Freud ouvindo as associações livres (do consciente) do paciente, ele
era capaz de formar uma imagem do que inconscientemente estava ocorrendo na mente do paciente; e durante anos usando esse
método ele concluiu que não só os sintomas histéricos poderiam ser
cuidados, mas também muitos outros aspectos normais ou patológicos do comportamento
e do pensamento,
que eram o
resultado do que inconscientemente estava
acontecendo na mente do indivíduo que os apresentava.
No estudo dos fenômenos mentais inconscientes, Freud descobriu que eles poderiam ser divididos em dois grupos:
a)Pré-conscientes: Que poderiam se tornar conscientes facilmente, apenas com um esforço de atenção ou memória.
b)Inconscientes:
Barrados
da consciência por uma força considerável e que só se tornariam conscientes através de um esforço
muito grande. Freud demonstrou que o
inconsciente exerce a mais significativa influência no funcionamento mental, e demonstrou
ainda, que os processos inconscientes podem ser bastante comparáveis as
conscientes em precisão e complexidade. Para exemplificar, podemos citar a
sugestão pós-hipnótica, um paciente durante
seu transe hipnótico é induzido a uqe depois de sair desse transe, dê corda em seu relógio, é induzido também a não se lembrar do que aconteceu durante esse transe hipnótico.
Quando o terapeuta o acorda, ele
ímadiatamente começa a dar corda no relógio
sem saber porquê, esta experiência demonstra claramente que um processo mental verdadeiramente
inconsciente pode ter um efeito dinâmico ou motor sobre o pensamento e o
comportamento.
Baseado em sua técnica psicanalítica, Freud, desenvolveu um estudo minucioso sobre os sonhos, e este estudo se tornou também uma de suas
maiores realizações. Seu livro "A Interpretação dos sonhos", situa-se
entre os maiores e mais revolucionários
livros científicos de todos os tempos. Freud demonstrou que por trás de todo sonho existem pensamentos e desejos
inconscientes ativos. Demonstrou também que no estado de vigília que precede o sono, ocorre um fenômeno que chamamos
de lapso: Lapso de memória, de
linguagem, de escrita e similaresque foram chamados de atos errôneos ou atos
falhos, ou seja, é fácil esquecer algo desagradável ou esquecer um encontro com uma pessoa desagradável.
Outro aspecto evidente de que os processos mentais inconscientes do indivíduo são
de extrema importância é que o comportamento de uma pessoa pode parecer óbvio para o observador, porém, o próprio
indivíduo desconhece. Se o paciente é portador de uma cegueira histérica sabemos que inconscientemente existe algo que
ele não deseja ver, ou que sua consciência o proíbe de olhar, nós
sabemos, mas ele não!
Concluindo, sabemos hoje, através das teorias de Freud, que consciência e funcionamento mental não são sinônimos, sabemos também que a consciência
não necessita necessariamente participar das atividades
mentais que são decisivas na determinação do
comportamento do indivíduo, tais atividades podem ser completamente inconscientes. Para tratar as patologias, Freud desenvolveu, à partir do
estudo da hipnose, a qual elimina a ação do consciente, a técnica
psicanalítica, que promove a expressão do inconsciente
do paciente, que se abstrai da realidade sem que se recorra à hipnose. Essa técnica
revolucionou o mundo dos estudos e tratamentos da mente humana.
Referência: Sociedade Brasileira de Psicologia Integrativa
Link: http://www.sbpi.org.br/webc.asp
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
FILME: “UMA MENTE BRILHANTE”
John Nash desde muito jovem, já demonstrava com evidência seu gosto pela solidão, pois sempre preferia fazer suas coisas sozinho do que a estar em grupo. Ele era muito solitário e introspectivo, sempre preferindo os livros a brincar com outras crianças. Na escola, seus professores não o reconheciam como um prodígio, e sim como um menino extremamente anti-social.
Com o passar dos anos, em sua vida acadêmica, Nash começou a apresentar sinais de esquizofrenia, em 1958. Ele foi internado e diagnosticado com esquizofrenia paranóide e depressão com baixa auto-estima. Ele sofria de muitos delírios e alucinações. Nash se recuperava temporariamente, mas logo voltava a sofrer distúrbios mentais.
Ao longo dos próximos anos, foi se recuperando lentamente, conseguindo ignorar seus delírios causados pela esquizofrenia paranóica. Nash voltou a trabalhar, retornando à Princeton como professor de matemática e ganhou uma série de prêmios acadêmicos internacionais. Em 1994, por sua tese de doutorado escrita há décadas atrás, foi agraciado com o mais prestigioso prêmio de matemática do mundo: o Nobel.
Há algumas cenas do filme que exemplificam a ilusão, como por exemplo o galpão abandonado que existia na universidade. Neste caso, Jonh Nash acredita que este galpão é um local secreto, com agentes trabalhando e máquinas modernas. Outra ilusão, ainda neste local, é a caixa de correio, onde Jonh deixa correspondências secretas, contendo códigos decifrados. Na verdade, este é mais um objeto real, porém distorcido pela percepção de Jonh Nash.
Nash também via e ouvia pessoas imaginárias que o acompanhavam em situações especiais e exerciam funções diferenciadas em sua vida. Um "amigo" e companheiro de quarto e a "sobrinha do amigo" eram altamente reforçadores. Apareciam em sua vida em momentos críticos, quando precisava de amigos. Outra imagem era um "agente" especial (O Big Brother) que o mantinha informado das conspirações, dando-lhe dicas ou instruções. O "agente" tinha função reforçadora e, às vezes, função coercitiva e/ou punitiva.
Em um momento dramático do filme, Nash enfrenta suas próprias imagens visuais e auditivas numa tentativa de expulsá-las de sua vida ou pelo menos neutralizar sua influência. Havia aprendido com Alicia - sua esposa - a discriminar seus estados internos e a confrontá-los com as contingências públicas às quais era exposto.
Nash, tem esquizofrenia e desenvolve um delírio persecutório a partir das alucinações que tem. Há uma convicção impressionante por parte do protagonista, na qual ele acredita que trabalha em segredo para uma organização, onde tem que descobrir códigos secretos através da matemática, para combater os Russos. Toda esta trama constitui um delírio. Mas vale ressaltar que nesse caso específico o que Nash tem são idéias deliróides. As Idéias Deliróides constituem tentativas de manipular os problemas e as tensões da vida, através da fantasias elaboradas para fornecer aquilo que a vida real nega, entretanto, devido ao seu aspecto mórbido, tais fantasias não são construídas numa estrutura compatível com uma adaptação social normal.
A esquizofrenia tem 5 subtipos, John se encaixa no de Paranóide, que caracteriza-se por alucinações auditivas ou idéias delirantes dominantes, onde vão se preservar as funções de afeto e funções cognitivas. As idéias delirantes são normalmente persecutórias, não respeitam o tempo e nem o espaço, atuando e manifestando-se em tudo e todos. A ansiedade, o estresse e a indiferença constituem características associadas a estas idéias, podem ativá-las de certo modo. Essas idéias persecutórias de John Nash passaram a ditar os seus pensamentos e comportamentos, levando-o a afastar-se do convívio com as pessoas, pois ele pensava, assim acreditava que essas estavam envolvidas com os seus inimigos.
Ao deixar de tomar os medicamentos, e machucar sem querer a sua mulher e filho, John em meio a sua crise, tomou conta que a garotinha que aparecia para ela, não tinha crescido, depois de 1 ano. Tomando assim consciência de suas alucinações. John pede para Alice não deixá-lo voltar ao Hospital Psiquiátrico, e que ela o deixe também. Alice não o deixa, e resolve ajudá-lo a continuar viver normalmente mesmo que com suas limitações. Ela mostra ao matemático que o ele tem que focar não no que ele pensa, mas sim no que ele sente, principalmente por ela. Alice usou estratégias para ajudá-lo, ela pede que ele tente com calma se reaproximar das pessoas, fica atenta aos comportamentos do marido e é compreensiva com eles.
O contato com pessoas reais e que o amam, poderia dar uma nova visão do mundo real, e a volta a faculdade foi essencial para Jonh Nash mesmo a principio sendo difícil. A esquizofrenia é uma doença que pode ser acompanhada de sentimentos de culpa e vergonha, mas, no entanto, o apoio familiar e social é fundamental para o controle e evolução, bem como no tratamento como na aceitação da doença. O apoio da família e das pessoas mais próximas é essencial para o controle da doença.
Após sofrer por alucinações e idéias de perseguição, Nash acaba sendo internado em um hospital psiquiátrico, onde é diagnosticado esquizofrênico. Nash é submetido a um tratamento que possui um método extremamente doloroso: tratamento de choque, e através
de medicamentos antipsicóticos. Esses tratamentos acabam criando efeitos colaterais negativos que afetam o seu relacionamento com sua esposa e sua capacidade intelectual, ou seja, esses métodos não propiciam uma vida de qualidade para os pacientes. Com o avanço da medicina começam a surgir medicamentos melhores para o tratamento da esquizofrenia, os efeitos são mais eficazes e possuem menos efeitos colaterais que os antigos antipsicóticos. Esse avanço permitiu também que muitos pacientes passassem a ser tratado num regime ambulatorial, utilizando os medicamentos em casa, não mais necessitando do internamento. Com isso, com o avanço da medicina e com os novos tratamentos, foi possível melhorar a qualidade de vida para esses pacientes, e muitos podem voltar as suas atividades e ter uma vida social saudável.
Elaine Carneiro e Leonardo Vasconcelos.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
Indicação de Filme: 12 Homens e uma sentença.
12
homens e uma sentença
(Sidney Lumet,1957)
“Um jovem porto-riquenho
é acusado do brutal crime de ter matado o próprio pai. Quando ele vai a
julgamento, doze jurados se reúnem para decidir a sentença, levando em conta
que o réu deve ser considerado inocente até que se prove o contrário. Onze dos
jurados têm plena certeza de que ele é culpado, e votam pela condenação, mas um
jurado acha que é melhor investigar mais para que a sentença seja correta. Para
isso ele terá que enfrentar diferentes interpretações dos fatos, e a má vontade
dos outros jurados, que só querem ir logo para suas casas.”
Impressões:
É interessante pensar que enquanto sujeitos com estrutura biologicamente iguais o nosso comportamento é fruto da interação com o meio e todas as relações sociais as quais experimentamos.
É interessante pensar que enquanto sujeitos com estrutura biologicamente iguais o nosso comportamento é fruto da interação com o meio e todas as relações sociais as quais experimentamos.
Diante
disto diversos fatores podem contribuir para que mudemos nosso comportamento,
valores e atitudes, a depender de como somos influenciados. No filme temos um
garoto acusado de matar seu pai, todo processo gira em torno de avaliar sua
postura, seus atos a fim de chegar a um veredicto. No entanto, sabendo que o
indivíduo é um ser intencional e criativo, que está em constante mutação
podendo assim mudar o processo cultural que o constitui, ou seja, nosso
comportamento antes de tudo também é mutável.
Pelo
relato dos júris notamos que o garoto em momento algum falou algo, ou seja,
toda conclusão ali tomada foi obtida através de informações concedidas pelos
advogados, logo, a sociedade, ali representada pelo júri, tem o poder de
condenar ou inocentar o garoto pela possível homicídio, tendo como fonte de
informação o que foi dito no tribunal, por outras pessoas a cerca dele.
Observamos
a junção de doze homens com culturas completamente diferentes a fim de
definirem o destino de um único homem com cultura tão diferente quanto à deles
entre si. É uma tarefa difícil, pois põem em xeque os próprios valores e a
forma como se analisa o outro a partir dos seus conceitos.
Sabemos
que as decisões tomadas em grupos são mais arriscadas que as tomadas
individualmente e uma das explicações para isso é que quando tomada em grupo
tem-se a responsabilidade daquela decisão dividida entre os membros. Se no
filme todos o julgassem-no culpado e ele fosse inocente a culpa seria de todos
e não de um apenas o mesmo seria o inverso, no entanto, a regra era que o
resultado fosse unânime e apenas um se opõe ao resto grupo levando-os a
seguinte situação: ou os onze o convencem do que o garoto é culpado ou ele
convence os onze a decidirem pela inocência do rapaz.
Precisamos
tomar decisões todos os dias, desde os exemplos mais fácies como a roupa que
vamos vestir a situações mais complexas como a escolha de uma profissão, constantemente
estamos julgando, processando e coletando informações que possam facilitar
nosso relacionamento com o meio social, temos necessidade de atribuir causas
aos fenômenos que observamos dar explicações possíveis para os eventos etc. e a
nossa cultura influencia inegavelmente cada um desses fatores.
O
filme por sua vez nos faz repensar sobre isso e a necessidade de aprendermos mais sobre nós mesmos antes de
julgar os outros, se conscientizar do que há por trás de nossas palavras,
atitudes, a maneira como lidamos com nossas responsabilidades sociais e
julgamentos.
Michelle Souza
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
ANÁLISE DE UM CASO CLÍNICO: O AVIADOR
O filme "O aviador" é uma
biografia sofisticada do milionário Howard Hughes, um milionário excêntrico que
foi pioneiro da aviação e do cinema. O personagem é apresentado com fluidez, tendo
sua vida apresentada desde a infância até a idade adulta. As mãos terão um
papel importante no filme: do toque amoroso de Howard em seus aviões à aversão
do contato manual para evitar contaminações, e à mania de lavá-las
continuamente, numa progressão do transtorno que o leva à repetição sem
controle das frases e à reclusão.
Faremos aqui uma breve discussão
sobre as estruturas de personalidade neurótica e psicótica para que possamos
elucidar o diagnóstico diferencial do personagem Howard Hughes. A questão
levantada busca identificar qual dessas estruturas representa o personagem e se
o mesmo desenvolveu TOC ou uma Psicose. Para isso tomaremos como base
fundamentos psicanalíticos.
HIPÓTESE
DIAGNÓSTICA:
A busca do diagnóstico se dá no
registro do simbólico do sujeito, onde estão articuladas suas questões
fundamentais. A estrutura do sujeito é constituída na sua passagem pelo
complexo de Édipo, em que há a inscrição do Nome-do-pai, do Outro que
representa a lei, na relação do sujeito com o mundo, e diz não à sua submissão
total ao desejo materno, permitindo a produção de uma significação fálica para
o sujeito barrado pela falta.
É através da cena edípica que o
sujeito vai se estruturar e organizar o seu viver, sobretudo em torno de seu
posicionamento diante da angústia de castração, na maneira como ela se
posiciona diante do outro.
O sujeito ao passar pelo complexo de
Édipo, pode recalcar, desmentir ou foracluir a angústia da castração. O
neurótico recalca sua angústia que retorna no símbolo sobre forma de sintoma,
ou outras manifestações do inconsciente. Já para o psicótico, a castração não
existe e há uma cisão com a realidade e
com as barreiras do limite entre o sujeito e o outro.
“O que marca a diferença entre a psicose e
a neurose é que a realidade rejeitada (foracluída ou recaldada), retorna o
tempo todo no real na psicose para tentar organizar o psiquismo no sujeito”.
Durante o filme “O Aviador”, em uma
cena bem curiosa, Howard recebe uma refeição. A disposição dos alimentos no
prato é a seguinte: um pedaço de carne e três colunas de ervilha dispostas de
forma simétrica, evidenciando assim sua obsessão pela ordem. Quando um colega
de mesa resolve “roubar” uma ervilha de seu prato, desorganizando a simetria
dos alimentos, Howard se mostra claramente desconfortável com a situação,
chegando a abandonar a refeição. Ele perde completamente a concentração na
conversa e sua única preocupação é com a “desordem” causada pelo colega.
Após essa cena, é possível ver que o
personagem mostra uma preocupação com a contaminação. A preocupação é tanta que
o impede de entregar uma toalha a um homem necessitado. Howard parece ter
apenas uma ideia perseverante na sua mente: "suas mãos estão sujas!”. Esta
ideia é tão persistente e desagradável que a única forma de se livrar dela é
lavando insistentemente as mãos. Os atos compulsivos são formas de aliviar a
tensão, mesmo que temporariamente, causada pelas ideias obsessivas recorrentes.
Ao final dessa seqüência, mais uma idéia obsessiva lhe invade a mente: “a porta
esta contaminada!”. Sem ter formas de se proteger daquilo, sua única
alternativa é a de esperar que alguém abra a porta para que ele possa sair.
Todas essas cenas apontam para uma
possível fobia aos germes, que o levou a um esgotamento nervoso. Isso ocorreu
provavelmente, pelo fato de sua mãe sofrer de microfobia (medo de objetos pequenos; terror aos
micróbios) e superprotegê-lo durante a infância, chegando a isolá-lo por
medo de contrair enfermidades ou doenças contagiosas e enfatizava: “você não
esta seguro”. Por conta disso, Howard cresceu com uma visão deturpada do mundo
exterior, desenvolvendo a mesma fobia na idade adulta.
Pudemos perceber que em todas as
situações onde há forte pressão ou cobranças dirigidas a Howard ele reage de
forma específica, utilizando-se de mecanismos para aliviar a tensão. O
personagem lava as mãos compulsivamente ate achar que estão completamente
livres de micróbios e chega a isolar alguns objetos para evitar a contaminação.
Diante de situações extremas que lhe
fogem o controle, Howard recorria ao isolamento para retomar o controle. Em uma
situação no filme, ele se tranca no carro depois de repetir compulsivamente:
“quero ver os projetos!” e só consegue se acalmar ao soletrar a palavra
“Quarentena”. Essa palavra tem um significado marcante na vida desse
personagem, pois o mesmo acredita que o mundo é uma verdadeira ameaça de contaminação e que ele nunca estará
seguro. Com esse pensamento Howard não tem alternativa quando se sente
ameaçado, a não ser a reclusão.
Clinicamente, podemos dizer que as
neuroses diferenciam-se das psicoses pelo grau de envolvimento da
personalidade, sendo sua desorganização e desagregação muito mais pronunciadas
nas psicoses, onde o vínculo é muito mais tênue e frágil.
Nas psicoses, alguns aspectos da
realidade são negados e substituídos por concepções particulares e peculiares
que tendem unicamente as características da doença. A sintomatologia psicótica
se caracteriza, principalmente, pelas alterações a nível do pensamento e da afinidade
e conseqüentemente, todo comportamento e toda performance existencial do
sujeito serão comprometidos. O processo psicótico impõe ao paciente uma forma
patológica de representar a realidade e de elaborar conceitos. Instalam-se aqui
alterações qualitativas, um algo essencial patológico e sofrível.
Concluímos, portanto, que provavelmente
o personagem Howard Hughes tem uma estrutura de personalidade psicótica. A
onipotência do personagem demonstrada no filme é utilizada na criação de outra
realidade, eliminando assim a realidade que é frustrante. Ou seja, diante do
exposto nas cenas do filme e da análise sobre as estruturas de personalidade, acreditamos
que os sintomas obsessivos e compulsivos são apenas formas que o personagem
encontrou de organizar o mundo para que ele possa sobreviver. Estes atos
compulsivos apenas completam as necessidades básicas do ser humano para a
segurança, já que houve um “ não atravessamento pela fase edípica”. Isto fica
evidenciado na relação mãe-filho representada no início do filme, uma relação
simbiótica e superprotetora.
O personagem também apresenta
características perfeccionistas. Todos os seus feitos deveriam ser perfeitos e
melhores que os já existentes. Não possuía muito senso crítico quanto aos
gastos e a dificuldade de se produzir algo tão grandioso.
Em relação a seus relacionamentos
amorosos podemos afirmar que eram no mínimo excêntricos. Com o fim do seu
primeiro casamento, o desequilíbrio emocional foi tanto que Howard chegou a
queimar toda a roupa que possuía inclusive a que estava vestindo, logo depois
ligou para um funcionário pela madrugada pedindo para que ele comprasse umas
roupas; nesta ligação, o personagem demonstrou estar completamente
desorganizado, desorientado, desequilibrado. Em outro relacionamento, Howard
chegou a deixar um carro vigiando sua casa 24h e espalhar escutas pela casa,
pois achava que estava sendo perseguido e que estavam armando contra ele.
Há cenas do filme em que ele se
isola completamente, por medo de contaminação, passando dias trancados com
pensamentos persistentes e um enorme descuido com a higiene pessoal.
Por fim, o personagem parece, na última
cena do filme, ter a idéia de que está sendo perseguido. Em determinado momento
questiona sobre as pessoas que ele suspeita estarem observando-o, com perguntas
do tipo: “eles trabalham para mim?”. Logo depois encontra-se como se estivesse
bloqueado (impossibilitado de raciocinar e dar continuidade), e como um disco
arranhado, passa a repetir uma determinada frase de forma quase automática:
“eles são o futuro, eles são o futuro...!”. É levado por dois amigos até o
banheiro, até que eles chamem o médico. Nesse local ele tem alucinações e
escuta sua mãe dizer: "você não esta seguro!” Então, começa a ver a uma
imagem de sua infância, quando sua mãe estava lhe dando banho, representando,
neste momento, a instalação de um possível surto psicótico.
Elaine
Carneiro e Leonardo Vasconcelos.
Referências
http://local.artigosinformativos.com.br/Analise_clinica_da_psicose_Planaltina_Goias-r1185390-Planaltina_GO.html
http://www.terra.com.br/istoegente/287/diversao_arte/cine_aviador.htm
quinta-feira, 4 de dezembro de 2014
Encontro no divã
Falar
com você
É
ter contato com o interior
Saber
como estou, sentir minha dor.
Na
poltrona, no divã
Sentir
o corpo, ouvir o silêncio
Dar
voz ao pensamento.
Olhos
nos olhos
Olhar
perdido?
Um
olhar para dentro
Enxergar
o sentimento.
Quando
falo de alguém,
Falo
pouco do outro
Falo
muito de mim
Tento
encontrar o fim.
Busco
paz,
Encontro
turbilhão
Acalmo
a angústia
Acho
empatia.
Sofrimento,
solidão, dor
Medo,
calafrio
Amor,
paixão, desejo
Calafrio
sem medo.
Acho
o que procuro?
Procuro
não sei o que
Me
acho procurando
Procurando
meu ser.
Vou
sendo, merecendo
Estarei
vivendo.
Ele
me acompanha
E
em seguida me abandona.
Abandono,
é seguir em frente
Poder
seguir sozinho,
Estar
ao meu lado, sem estar
Viver
dentro de mim, sendo somente eu.
Sigo
sozinho
Com
a certeza de não estar só
Já
posso usar meus pés
Sair
do divã, seguir viagem.
Sozinho
não estarei,
Ele
estará comigo
Na
lembrança, no sentir
E
assim sei que poderei prosseguir.
Elaine Carneiro.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
Indicação de Filme: Cisne Negro
Cisne Negro
(Darren Aronofsky, 2010)
É um thriller psicológico
ambientado no mundo do balé da Cidade de Nova York. Natalie Portman interpreta
uma bailarina de destaque que se encontra presa a uma teia de intrigas e
competição com uma nova rival interpreta por Mila Kunis. Dirigido por Darren Aronofsky,
Cisne Negro faz uma viagem emocionante e às vezes aterrorizante à psique de uma
jovem bailarina, cujo papel principal como a Rainha dos Cisnes acaba sendo uma
peça fundamental para que ela se torne uma dançarina assustadoramente perfeita.
Impressões:
Cisne Negro é um filme
que supera suas expectativas, muito mais que um clássico balé reinventado ele
aborda toda a magia, contradição, excessiva busca pela perfeição e rivalidade
existente numa companhia de balé, bem como na trajetória de Nina, personagem de
Natalie Portman que traz em si um turbilhão de emoções. O filme tem um viés
psicológico muito marcante, traz a tona um misto de desejos projetados,
delírios, obsessões e relações de extrema rivalidade.
Nina é claramente fruto
de um sonho interrompido, pois através de seu nascimento sua mãe se vê obrigada
a deixar de lado a carreira de bailarina e em decorrência disto ela é alvo de
todos os desejos não realizados desta mãe sendo forçada e moldada desde cedo a
ser perfeita, tamanha repressão à torna infantil, frágil e extremamente técnica,
fria, incapaz de estabelecer outras relações que não seja a que mantém de
maneira doentia com a mãe.
Ela é a representação
de todos os projetos não alcançados por sua genitora, é através dela que a mãe
se realiza. Esta mãe é invasiva, obcecada, apaixonada no sentido real da
loucura que a paixão provoca, sua filha passa a ser extensão dela, de seus
desejos, de seus sonhos. Uma relação de posse extremamente simbiótica que se vê
ameaçada por Lily (Mila
Kunis), quando esta mostra a vida a Nina enquanto exageros,
certos e errados, imperfeita, sem controle, regida por
impulsos e desejos. Lily é o que desafia Nina a despertar seu lado sombrio, é o
caminho que a leva ao desejo, a malícia e ao confronto com a mãe, é através de
sua possível rival que Nina desperta a mulher que sua mãe oprime.
Ela é a representação
da técnica pela técnica, é perfeita enquanto este aspecto e tão obcecada por
ele que rompe com o real na busca de incorporar a Rainha dos Cisnes, todo o enredo
do filme nos é passado pelos olhos dela, a mistura do real e do imaginário é
tanta que confunde, chegando a transpassar toda a angústia da personagem para o
telespectador.
Durante a
apresentação do espetáculo Nina enquanto Cisne Branco, sua perfeição em técnica,
vacila, erra, cai, exibindo toda sua fragilidade enquanto menina, a doce menina
de sua mãe. Instantes depois quando incorpora o Cisne Negro mostra toda sua
potência enquanto mulher, seu desafio, seu medo, seus desejos. Ela não só
consegue interpretar o a Rainha dos Cisnes como vive e se torna ela, sua
expressão muda, seu corpo, sua postura, sua atitude. É claramente a ruptura da
repressão que ela vivia. No ato final, enquanto Cisne Branco, porém não mais
frágil, a personagem vive a realização de ter sido perfeita em sua atuação, na
fusão de seu lado sombrio e passivo.
Michelle Souza
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