sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Feliz ano novo!


Nós, que fazemos o infinito particular, estamos finalizando as publicações de 2014 e nos preparando para trazermos novidades e textos diversos em 2015.

Desejamos a todos um feliz ano novo, cheio de realizações e conquistas, saúde, paz e muitas felicidades.

Aguardem as novidades!
Boas festas e até breve!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Como Freud Desenvolveu a Psicanálise

(Texto na integra)

A Psicanálise é uma disciplina científica desenvolvida por Sigmund Freud. A teoria psicanalítica é composta por um corpo de hipóteses a respeito do funcionamento e desenvolvimento da mente do homem, ela se interessa tanto pelo funcionamento mental normal como pelo patológico, embora a prática da psicanálise consista no tratamento de pessoas que se acham enfermas.
Duas hipóteses fundamentais da psicanálise são:
1)             Princípio do determinismo psíquico ou da causalidade.
2)      Proposição de que a consciência é antes um atributo excepcional
do que um atributo comum dos processos psíquicos. Os processos
mentais inconscientes são de maior frequência e significado no
funcionamento mental normal, bem como no anormal.

Estas 2 hipóteses fundamentais se relacionam, mutuamente: "o princípio do determinismo psíquico baseia-se em que os fenômenos mentais têm total conexão com todos os outros fenômenos mentais que os precedam? existindo uma total continuidade na vida mental. Assim, tanto na mente como na natureza física que nos cerca nada acontece por acaso, cada evento psíquico é determinado por aqueles que o precederam. Dessa maneira não existe fenômeno psíquico acidental ou sem significação. Cada sintoma neurótico é provocado por outros processos mentais, apesar do fato de que o próprio paciente frequentemente considere o sintoma como estranho a seu ser como um todo e completamente desligado do resto de sua vida mental, contudo, as conexões existem e são demonstráveis, apesar de o paciente não se dar conta de sua presença.
Neste ponto, percebemos que estamos falando não só do princípio do determinismo psíquico como também, da Segunda hipótese, que diz que os processos mentais inconscientes são de grande frequência. Existe um grande significado nos processos mentais inconscientes, isto é, dos quais o indivíduo não se dá conta.
Para Freud, até mesmo os sonhos são uma consequência de outros eventos psíquicos e cada sonho mantém uma relação coerente e significativa com o restante da vida psíquica da pessoa que sonha.
A relação entre as 2 hipóteses é tão íntima que dificilmente se pode examinar uma, sem suscitar a outra. O fato de tantas coisas que acontecem em nossa mente serem desconhecidas para nós (inconscientes) é responsável pela aparente descontinuidade em nossa vida mental. Quando um pensamento, um sentimento, um esquecimento acidental, um sonho ou um sintoma parecem não se relacionar com algo que aconteceu antes na mente, isso significa que sua conexão causal se apresenta em algum processo mental inconsciente em vez de num processo consciente. Se se conseguir descobrir a causa ou causas inconscientes, então todas as descontinuidades aparentes desaparecem e a cadeia causal ou sequência, torna-se clara. Ex: Uma pessoa surpreende-se cantando uma música e pensa como ou porque,ela estaria cantarolando exatamente aquela música que ela não ouve há algum tempo, outra pessoa que está por perto, diz que a música acabou de ser tocada no rádio, só que ela estava tão abstraída em seus pensamentos, que não se deu conta disso, a música ficou no seu inconsciente, para essa pessoa sua experiência subjetiva foi de uma descontinuidade em seus pensamentos, sendo necessário o testemunho de outra pessoa para remover a aparência de descontinuidade e tornar clara a cadeia causal. Este é um exemplo muito simples da descoberta de um processo mental inconsciente.
Não existe um método direto que nos permita observar os processos mentais inconscientes, todos os métodos para estudar tais fenômenos são indiretos.O método mais eficaz e de maior confiança de que dispomos para estudar os processos mentais inconscientes é aquele desenvolvido durante anos por Freud, ou seja, a PSICANÁLISE.
Na época em que Freud desenvolveu a sua psicanálise, a medicina ainda era um tanto rudimentar, problemas psíquicos eram frequentemente tratados por neurologistas. Freud, formado médico neuro anatomista e neurologista, estudou e utilizou os métodos de tratamento para histeria preconizados pelo grande neurologista da época Erb, que eram considerados os mais científicos e que estavam à disposição, que eram os tratamentos elétricos, mas Freud concluiu que esse tipo de tratamento para histeria era inútil.
Freud foi para Paris em 1885, onde estudou na clínica do Dr. Charcot, com este aprendeu a técnica da hipnose para cura da histeria. Como outros neurologistas de seu tempo ele procurou curar seus pacientes pela sugestão hipnótica com diferentes graus de êxito, foi mais ou menos nessa mesma época que seu amigo Breuer, que era médico clínico de grande reputação, lhe contou uma experiência que fizera com uma paciente histérica anos antes, ele relatou que os sintomas histéricos da mulher desapareceram quando ela foi capaz, em estado hipnótico, de recordar a experiência e emoção associada que conduzira ao sintoma em questão, seus sintomas puderam ser afastados ao conversar sobre eles sob hipnose. Entusiasmado, Freud, Aplicou esse método no tratamento de seus próprios pacientes histéricos com bons resultados, ele foi se aperfeiçoando cada vez mais e estudou também os métodos hipnóticos do francês Bernheim, que por sua vez, demonstrou que a amnésia de um paciente durante as suas experiências hipnóticas pudia ser removida sem voltar a hipnotizar o paciente, forçando-o a recordar aquilo que afirmava que não podia. Se a insistência fosse bastante persistente e poderosa o paciente acabava por relembrar o que havia esquecido sem ser rehipnotizado. Freud, deduziu com base nisso, que poderia ser capaz também de remover a amnésia histérica sem hipnose e começou a fazê-lo. À partir desse início, desenvolveu a técnica psicanalítica, cuja a essência consiste em que o paciente fale para o psicanalista qualquer pensamento, sem exceção, que lhe venha à mente sem necessidade de uma orientação consciente ou uma censura.
O Grande valor de o paciente renunciar ao controle consciente de seus pensamentos é que tudo o que ele diz, é determinado por motivos e pensamentos inconscientes. Desse modo Freud ouvindo as associações livres (do consciente) do paciente, ele era capaz de formar uma imagem do que inconscientemente estava ocorrendo na mente do paciente; e durante anos usando esse método ele concluiu que não só os sintomas histéricos poderiam ser cuidados, mas também muitos outros aspectos normais ou patológicos  do  comportamento  e  do  pensamento,  que  eram   o   resultado  do  que inconscientemente estava acontecendo na mente do indivíduo que os apresentava.
No estudo dos fenômenos mentais inconscientes, Freud descobriu que eles poderiam ser divididos em dois grupos:
a)Pré-conscientes: Que poderiam se tornar conscientes facilmente, apenas com um esforço de atenção ou memória.
b)Inconscientes: Barrados da consciência por uma força considerável e que só se tornariam conscientes através de um esforço muito grande. Freud demonstrou que o inconsciente exerce a mais significativa influência no funcionamento mental, e demonstrou ainda, que os processos inconscientes podem ser bastante comparáveis as conscientes em precisão e complexidade. Para exemplificar, podemos citar a sugestão pós-hipnótica, um paciente durante seu transe hipnótico é induzido a uqe depois de sair desse transe, dê corda em seu relógio, é induzido também a não se lembrar do que aconteceu durante esse transe hipnótico. Quando o terapeuta o acorda, ele ímadiatamente começa a dar corda no relógio sem saber porquê, esta experiência demonstra claramente que um processo mental verdadeiramente inconsciente pode ter um efeito dinâmico ou motor sobre o pensamento e o comportamento.
Baseado em sua técnica psicanalítica, Freud, desenvolveu um estudo minucioso sobre os sonhos, e este estudo se tornou também uma de suas maiores realizações. Seu livro "A Interpretação dos sonhos", situa-se entre os maiores e mais revolucionários livros científicos de todos os tempos. Freud demonstrou que por trás de todo sonho existem pensamentos e desejos inconscientes ativos. Demonstrou também que no estado de vigília que precede o sono, ocorre um fenômeno que chamamos de lapso: Lapso de memória, de linguagem, de escrita e similaresque foram chamados de atos errôneos ou atos falhos, ou seja, é fácil esquecer algo desagradável ou esquecer um encontro com uma pessoa desagradável.
Outro aspecto evidente de que os processos mentais inconscientes do indivíduo são de extrema importância é que o comportamento de uma pessoa pode parecer óbvio para o observador, porém, o próprio indivíduo desconhece. Se o paciente é portador de uma cegueira histérica sabemos que inconscientemente existe algo que ele não deseja ver, ou que sua consciência o proíbe de olhar, nós sabemos, mas ele não!
Concluindo, sabemos hoje, através das teorias de Freud, que consciência e funcionamento mental não são sinônimos, sabemos também que a consciência não necessita necessariamente participar das atividades mentais que são decisivas na determinação do comportamento do indivíduo, tais atividades podem ser completamente inconscientes. Para tratar as patologias, Freud desenvolveu, à partir do estudo da hipnose, a qual elimina a ação do consciente, a técnica psicanalítica, que promove a expressão do inconsciente do paciente, que se abstrai da realidade sem que se recorra à hipnose. Essa técnica revolucionou o mundo dos estudos e tratamentos da mente humana.


Referência: Sociedade Brasileira de Psicologia Integrativa

Link: http://www.sbpi.org.br/webc.asp

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

FILME: “UMA MENTE BRILHANTE”




John Nash desde muito jovem, já demonstrava com evidência seu gosto pela solidão, pois sempre preferia fazer suas coisas sozinho do que a estar em grupo. Ele era muito solitário e introspectivo, sempre preferindo os livros a brincar com outras crianças. Na escola, seus professores não o reconheciam como um prodígio, e sim como um menino extremamente anti-social.

Com o passar dos anos, em sua vida acadêmica, Nash começou a apresentar sinais de esquizofrenia, em 1958. Ele foi internado e diagnosticado com esquizofrenia paranóide e depressão com baixa auto-estima. Ele sofria de muitos delírios e alucinações. Nash se recuperava temporariamente, mas logo voltava a sofrer distúrbios mentais.

Ao longo dos próximos anos, foi se recuperando lentamente, conseguindo ignorar seus delírios causados pela esquizofrenia paranóica. Nash voltou a trabalhar, retornando à Princeton como professor de matemática e ganhou uma série de prêmios acadêmicos internacionais. Em 1994, por sua tese de doutorado escrita há décadas atrás, foi agraciado com o mais prestigioso prêmio de matemática do mundo: o Nobel.

Há algumas cenas do filme que exemplificam a ilusão, como por exemplo o galpão abandonado que existia na universidade. Neste caso, Jonh Nash acredita que este galpão é um local secreto, com agentes trabalhando e máquinas modernas. Outra ilusão, ainda neste local, é a caixa de correio, onde Jonh deixa correspondências secretas, contendo códigos decifrados. Na verdade, este é mais um objeto real, porém distorcido pela percepção de Jonh Nash.

Nash também via e ouvia pessoas imaginárias que o acompanhavam em situações especiais e exerciam funções diferenciadas em sua vida. Um "amigo" e companheiro de quarto e a "sobrinha do amigo" eram altamente reforçadores. Apareciam em sua vida em momentos críticos, quando precisava de amigos. Outra imagem era um "agente" especial (O Big Brother) que o mantinha informado das conspirações, dando-lhe dicas ou instruções. O "agente" tinha função reforçadora e, às vezes, função coercitiva e/ou punitiva.

Em um momento dramático do filme, Nash enfrenta suas próprias imagens visuais e auditivas numa tentativa de expulsá-las de sua vida ou pelo menos neutralizar sua influência. Havia aprendido com Alicia - sua esposa - a discriminar seus estados internos e a confrontá-los com as contingências públicas às quais era exposto.

Nash, tem esquizofrenia e desenvolve um delírio persecutório a partir das alucinações que tem. Há uma convicção impressionante por parte do protagonista, na qual ele acredita que trabalha em segredo para uma organização, onde tem que descobrir códigos secretos através da matemática, para combater os Russos. Toda esta trama constitui um delírio. Mas vale ressaltar que nesse caso específico o que Nash tem são idéias deliróides. As Idéias Deliróides constituem tentativas de manipular os problemas e as tensões da vida, através da fantasias elaboradas para fornecer aquilo que a vida real nega, entretanto, devido ao seu aspecto mórbido, tais fantasias não são construídas numa estrutura compatível com uma adaptação social normal.

A esquizofrenia tem 5 subtipos, John se encaixa no de Paranóide, que caracteriza-se por alucinações auditivas ou idéias delirantes dominantes, onde vão se preservar as funções de afeto e funções cognitivas. As idéias delirantes são normalmente persecutórias, não respeitam o tempo e nem o espaço, atuando e manifestando-se em tudo e todos. A ansiedade, o estresse e a indiferença constituem características associadas a estas idéias, podem ativá-las de certo modo. Essas idéias persecutórias de John Nash passaram a ditar os seus pensamentos e comportamentos, levando-o a afastar-se do convívio com as pessoas, pois ele pensava, assim acreditava que essas estavam envolvidas com os seus inimigos.
Ao deixar de tomar os medicamentos, e machucar sem querer a sua mulher e filho, John em meio a sua crise, tomou conta que a garotinha que aparecia para ela, não tinha crescido, depois de 1 ano. Tomando assim consciência de suas alucinações. John pede para Alice não deixá-lo voltar ao Hospital Psiquiátrico, e que ela o deixe também. Alice não o deixa, e resolve ajudá-lo a continuar viver normalmente mesmo que com suas limitações. Ela mostra ao matemático que o ele tem que focar não no que ele pensa, mas sim no que ele sente, principalmente por ela. Alice usou estratégias para ajudá-lo, ela pede que ele tente com calma se reaproximar das pessoas, fica atenta aos comportamentos do marido e é compreensiva com eles.

O contato com pessoas reais e que o amam, poderia dar uma nova visão do mundo real, e a volta a faculdade foi essencial para Jonh Nash mesmo a principio sendo difícil. A esquizofrenia é uma doença que pode ser acompanhada de sentimentos de culpa e vergonha, mas, no entanto, o apoio familiar e social é fundamental para o controle e evolução, bem como no tratamento como na aceitação da doença. O apoio da família e das pessoas mais próximas é essencial para o controle da doença.

Após sofrer por alucinações e idéias de perseguição, Nash acaba sendo internado em um hospital psiquiátrico, onde é diagnosticado esquizofrênico. Nash é submetido a um tratamento que possui um método extremamente doloroso: tratamento de choque, e através

de medicamentos antipsicóticos. Esses tratamentos acabam criando efeitos colaterais negativos que afetam o seu relacionamento com sua esposa e sua capacidade intelectual, ou seja, esses métodos não propiciam uma vida de qualidade para os pacientes. Com o avanço da medicina começam a surgir medicamentos melhores para o tratamento da esquizofrenia, os efeitos são mais eficazes e possuem menos efeitos colaterais que os antigos antipsicóticos. Esse avanço permitiu também que muitos pacientes passassem a ser tratado num regime ambulatorial, utilizando os medicamentos em casa, não mais necessitando do internamento. Com isso, com o avanço da medicina e com os novos tratamentos, foi possível melhorar a qualidade de vida para esses pacientes, e muitos podem voltar as suas atividades e ter uma vida social saudável.



Elaine Carneiro e Leonardo Vasconcelos.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Indicação de Filme: 12 Homens e uma sentença.

12 homens e uma sentença
(Sidney Lumet,1957)
Sinopse:

“Um jovem porto-riquenho é acusado do brutal crime de ter matado o próprio pai. Quando ele vai a julgamento, doze jurados se reúnem para decidir a sentença, levando em conta que o réu deve ser considerado inocente até que se prove o contrário. Onze dos jurados têm plena certeza de que ele é culpado, e votam pela condenação, mas um jurado acha que é melhor investigar mais para que a sentença seja correta. Para isso ele terá que enfrentar diferentes interpretações dos fatos, e a má vontade dos outros jurados, que só querem ir logo para suas casas.”

Impressões:

É interessante pensar que enquanto sujeitos com estrutura biologicamente iguais o nosso comportamento é fruto da interação com o meio e todas as relações sociais as quais experimentamos.


Diante disto diversos fatores podem contribuir para que mudemos nosso comportamento, valores e atitudes, a depender de como somos influenciados. No filme temos um garoto acusado de matar seu pai, todo processo gira em torno de avaliar sua postura, seus atos a fim de chegar a um veredicto. No entanto, sabendo que o indivíduo é um ser intencional e criativo, que está em constante mutação podendo assim mudar o processo cultural que o constitui, ou seja, nosso comportamento antes de tudo também é mutável.

Pelo relato dos júris notamos que o garoto em momento algum falou algo, ou seja, toda conclusão ali tomada foi obtida através de informações concedidas pelos advogados, logo, a sociedade, ali representada pelo júri, tem o poder de condenar ou inocentar o garoto pela possível homicídio, tendo como fonte de informação o que foi dito no tribunal, por outras pessoas a cerca dele.

Observamos a junção de doze homens com culturas completamente diferentes a fim de definirem o destino de um único homem com cultura tão diferente quanto à deles entre si. É uma tarefa difícil, pois põem em xeque os próprios valores e a forma como se analisa o outro a partir dos seus conceitos.

Sabemos que as decisões tomadas em grupos são mais arriscadas que as tomadas individualmente e uma das explicações para isso é que quando tomada em grupo tem-se a responsabilidade daquela decisão dividida entre os membros. Se no filme todos o julgassem-no culpado e ele fosse inocente a culpa seria de todos e não de um apenas o mesmo seria o inverso, no entanto, a regra era que o resultado fosse unânime e apenas um se opõe ao resto grupo levando-os a seguinte situação: ou os onze o convencem do que o garoto é culpado ou ele convence os onze a decidirem pela inocência do rapaz.

Precisamos tomar decisões todos os dias, desde os exemplos mais fácies como a roupa que vamos vestir a situações mais complexas como a escolha de uma profissão, constantemente estamos julgando, processando e coletando informações que possam facilitar nosso relacionamento com o meio social, temos necessidade de atribuir causas aos fenômenos que observamos dar explicações possíveis para os eventos etc. e a nossa cultura influencia inegavelmente cada um desses fatores.

O filme por sua vez nos faz repensar sobre isso e a necessidade de aprendermos mais sobre nós mesmos antes de julgar os outros, se conscientizar do que há por trás de nossas palavras, atitudes, a maneira como lidamos com nossas responsabilidades sociais e julgamentos.

Michelle Souza

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

ANÁLISE DE UM CASO CLÍNICO: O AVIADOR




            O filme "O aviador" é uma biografia sofisticada do milionário Howard Hughes, um milionário excêntrico que foi pioneiro da aviação e do cinema. O personagem é apresentado com fluidez, tendo sua vida apresentada desde a infância até a idade adulta. As mãos terão um papel importante no filme: do toque amoroso de Howard em seus aviões à aversão do contato manual para evitar contaminações, e à mania de lavá-las continuamente, numa progressão do transtorno que o leva à repetição sem controle das frases e à reclusão.

            Faremos aqui uma breve discussão sobre as estruturas de personalidade neurótica e psicótica para que possamos elucidar o diagnóstico diferencial do personagem Howard Hughes. A questão levantada busca identificar qual dessas estruturas representa o personagem e se o mesmo desenvolveu TOC ou uma Psicose. Para isso tomaremos como base fundamentos psicanalíticos.

HIPÓTESE DIAGNÓSTICA:

            A busca do diagnóstico se dá no registro do simbólico do sujeito, onde estão articuladas suas questões fundamentais. A estrutura do sujeito é constituída na sua passagem pelo complexo de Édipo, em que há a inscrição do Nome-do-pai, do Outro que representa a lei, na relação do sujeito com o mundo, e diz não à sua submissão total ao desejo materno, permitindo a produção de uma significação fálica para o sujeito barrado pela falta.
            É através da cena edípica que o sujeito vai se estruturar e organizar o seu viver, sobretudo em torno de seu posicionamento diante da angústia de castração, na maneira como ela se posiciona diante do outro.

            O sujeito ao passar pelo complexo de Édipo, pode recalcar, desmentir ou foracluir a angústia da castração. O neurótico recalca sua angústia que retorna no símbolo sobre forma de sintoma, ou outras manifestações do inconsciente. Já para o psicótico, a castração não existe e há uma cisão com a realidade e  com as barreiras do limite entre o sujeito e o outro.

            “O que marca a diferença entre a psicose e a neurose é que a realidade rejeitada (foracluída ou recaldada), retorna o tempo todo no real na psicose para tentar organizar o psiquismo no sujeito”.

            Durante o filme “O Aviador”, em uma cena bem curiosa, Howard recebe uma refeição. A disposição dos alimentos no prato é a seguinte: um pedaço de carne e três colunas de ervilha dispostas de forma simétrica, evidenciando assim sua obsessão pela ordem. Quando um colega de mesa resolve “roubar” uma ervilha de seu prato, desorganizando a simetria dos alimentos, Howard se mostra claramente desconfortável com a situação, chegando a abandonar a refeição. Ele perde completamente a concentração na conversa e sua única preocupação é com a “desordem” causada pelo colega.

            Após essa cena, é possível ver que o personagem mostra uma preocupação com a contaminação. A preocupação é tanta que o impede de entregar uma toalha a um homem necessitado. Howard parece ter apenas uma ideia perseverante na sua mente: "suas mãos estão sujas!”. Esta ideia é tão persistente e desagradável que a única forma de se livrar dela é lavando insistentemente as mãos. Os atos compulsivos são formas de aliviar a tensão, mesmo que temporariamente, causada pelas ideias obsessivas recorrentes. Ao final dessa seqüência, mais uma idéia obsessiva lhe invade a mente: “a porta esta contaminada!”. Sem ter formas de se proteger daquilo, sua única alternativa é a de esperar que alguém abra a porta para que ele possa sair.

            Todas essas cenas apontam para uma possível fobia aos germes, que o levou a um esgotamento nervoso. Isso ocorreu provavelmente, pelo fato de sua mãe sofrer de microfobia (medo de objetos pequenos; terror aos micróbios) e superprotegê-lo durante a infância, chegando a isolá-lo por medo de contrair enfermidades ou doenças contagiosas e enfatizava: “você não esta seguro”. Por conta disso, Howard cresceu com uma visão deturpada do mundo exterior, desenvolvendo a mesma fobia na idade adulta.

            Pudemos perceber que em todas as situações onde há forte pressão ou cobranças dirigidas a Howard ele reage de forma específica, utilizando-se de mecanismos para aliviar a tensão. O personagem lava as mãos compulsivamente ate achar que estão completamente livres de micróbios e chega a isolar alguns objetos para evitar a contaminação.

            Diante de situações extremas que lhe fogem o controle, Howard recorria ao isolamento para retomar o controle. Em uma situação no filme, ele se tranca no carro depois de repetir compulsivamente: “quero ver os projetos!” e só consegue se acalmar ao soletrar a palavra “Quarentena”. Essa palavra tem um significado marcante na vida desse personagem, pois o mesmo acredita que o mundo é uma verdadeira ameaça  de contaminação e que ele nunca estará seguro. Com esse pensamento Howard não tem alternativa quando se sente ameaçado, a não ser a reclusão.

            Clinicamente, podemos dizer que as neuroses diferenciam-se das psicoses pelo grau de envolvimento da personalidade, sendo sua desorganização e desagregação muito mais pronunciadas nas psicoses, onde o vínculo é muito mais tênue e frágil.

            Nas psicoses, alguns aspectos da realidade são negados e substituídos por concepções particulares e peculiares que tendem unicamente as características da doença. A sintomatologia psicótica se caracteriza, principalmente, pelas alterações a nível do pensamento e da afinidade e conseqüentemente, todo comportamento e toda performance existencial do sujeito serão comprometidos. O processo psicótico impõe ao paciente uma forma patológica de representar a realidade e de elaborar conceitos. Instalam-se aqui alterações qualitativas, um algo essencial patológico e sofrível.

            Concluímos, portanto, que provavelmente o personagem Howard Hughes tem uma estrutura de personalidade psicótica. A onipotência do personagem demonstrada no filme é utilizada na criação de outra realidade, eliminando assim a realidade que é frustrante. Ou seja, diante do exposto nas cenas do filme e da análise sobre as estruturas de personalidade, acreditamos que os sintomas obsessivos e compulsivos são apenas formas que o personagem encontrou de organizar o mundo para que ele possa sobreviver. Estes atos compulsivos apenas completam as necessidades básicas do ser humano para a segurança, já que houve um “ não atravessamento pela fase edípica”. Isto fica evidenciado na relação mãe-filho representada no início do filme, uma relação simbiótica e superprotetora.

            O personagem também apresenta características perfeccionistas. Todos os seus feitos deveriam ser perfeitos e melhores que os já existentes. Não possuía muito senso crítico quanto aos gastos e a dificuldade de se produzir algo tão grandioso.

            Em relação a seus relacionamentos amorosos podemos afirmar que eram no mínimo excêntricos. Com o fim do seu primeiro casamento, o desequilíbrio emocional foi tanto que Howard chegou a queimar toda a roupa que possuía inclusive a que estava vestindo, logo depois ligou para um funcionário pela madrugada pedindo para que ele comprasse umas roupas; nesta ligação, o personagem demonstrou estar completamente desorganizado, desorientado, desequilibrado. Em outro relacionamento, Howard chegou a deixar um carro vigiando sua casa 24h e espalhar escutas pela casa, pois achava que estava sendo perseguido e que estavam armando contra ele.

            Há cenas do filme em que ele se isola completamente, por medo de contaminação, passando dias trancados com pensamentos persistentes e um enorme descuido com a higiene pessoal.

            Por fim, o personagem parece, na última cena do filme, ter a idéia de que está sendo perseguido. Em determinado momento questiona sobre as pessoas que ele suspeita estarem observando-o, com perguntas do tipo: “eles trabalham para mim?”. Logo depois encontra-se como se estivesse bloqueado (impossibilitado de raciocinar e dar continuidade), e como um disco arranhado, passa a repetir uma determinada frase de forma quase automática: “eles são o futuro, eles são o futuro...!”. É levado por dois amigos até o banheiro, até que eles chamem o médico. Nesse local ele tem alucinações e escuta sua mãe dizer: "você não esta seguro!” Então, começa a ver a uma imagem de sua infância, quando sua mãe estava lhe dando banho, representando, neste momento, a instalação de um possível surto psicótico.


Elaine Carneiro e Leonardo Vasconcelos.



Referências

http://local.artigosinformativos.com.br/Analise_clinica_da_psicose_Planaltina_Goias-r1185390-Planaltina_GO.html


http://www.terra.com.br/istoegente/287/diversao_arte/cine_aviador.htm

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Encontro no divã

Falar com você
É falar de mim
É ter contato com o interior
Saber como estou, sentir minha dor.

Na poltrona, no divã
Sentir o corpo, ouvir o silêncio
Dar voz ao pensamento.

Olhos nos olhos
Olhar perdido?
Um olhar para dentro
Enxergar o sentimento.

Quando falo de alguém,
Falo pouco do outro
Falo muito de mim
Tento encontrar o fim.

Busco paz,
Encontro  turbilhão
Acalmo a angústia
Acho empatia.


Sofrimento, solidão, dor
Medo, calafrio
Amor, paixão, desejo
Calafrio sem medo.

Acho o que procuro?
Procuro não sei o que
Me acho procurando
Procurando meu ser.

Vou sendo, merecendo
Estarei vivendo.
Ele me acompanha
E em seguida me abandona.


Abandono, é seguir em frente
Poder seguir sozinho,
Estar ao meu lado, sem estar
Viver dentro de mim, sendo somente eu.
Sigo sozinho
Com a certeza de não estar só
Já posso usar meus pés
Sair do divã, seguir viagem.

Sozinho não estarei,
Ele estará comigo
Na lembrança, no sentir
E assim sei que poderei prosseguir.



Elaine Carneiro.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Indicação de Filme: Cisne Negro

Cisne Negro
(Darren Aronofsky, 2010)

Sinopse:

É um thriller psicológico ambientado no mundo do balé da Cidade de Nova York. Natalie Portman interpreta uma bailarina de destaque que se encontra presa a uma teia de intrigas e competição com uma nova rival interpreta por Mila Kunis. Dirigido por Darren Aronofsky, Cisne Negro faz uma viagem emocionante e às vezes aterrorizante à psique de uma jovem bailarina, cujo papel principal como a Rainha dos Cisnes acaba sendo uma peça fundamental para que ela se torne uma dançarina assustadoramente perfeita.



Impressões:
Cisne Negro é um filme que supera suas expectativas, muito mais que um clássico balé reinventado ele aborda toda a magia, contradição, excessiva busca pela perfeição e rivalidade existente numa companhia de balé, bem como na trajetória de Nina, personagem de Natalie Portman que traz em si um turbilhão de emoções. O filme tem um viés psicológico muito marcante, traz a tona um misto de desejos projetados, delírios, obsessões e relações de extrema rivalidade.

Nina é claramente fruto de um sonho interrompido, pois através de seu nascimento sua mãe se vê obrigada a deixar de lado a carreira de bailarina e em decorrência disto ela é alvo de todos os desejos não realizados desta mãe sendo forçada e moldada desde cedo a ser perfeita, tamanha repressão à torna infantil, frágil e extremamente técnica, fria, incapaz de estabelecer outras relações que não seja a que mantém de maneira doentia com a mãe.

Ela é a representação de todos os projetos não alcançados por sua genitora, é através dela que a mãe se realiza. Esta mãe é invasiva, obcecada, apaixonada no sentido real da loucura que a paixão provoca, sua filha passa a ser extensão dela, de seus desejos, de seus sonhos. Uma relação de posse extremamente simbiótica que se vê ameaçada por Lily (Mila Kunis), quando esta mostra a vida a Nina enquanto exageros, certos e errados, imperfeita, sem controle, regida por impulsos e desejos. Lily é o que desafia Nina a despertar seu lado sombrio, é o caminho que a leva ao desejo, a malícia e ao confronto com a mãe, é através de sua possível rival que Nina desperta a mulher que sua mãe oprime.

Ela é a representação da técnica pela técnica, é perfeita enquanto este aspecto e tão obcecada por ele que rompe com o real na busca de incorporar a Rainha dos Cisnes, todo o enredo do filme nos é passado pelos olhos dela, a mistura do real e do imaginário é tanta que confunde, chegando a transpassar toda a angústia da personagem para o telespectador.

Durante a apresentação do espetáculo Nina enquanto Cisne Branco, sua perfeição em técnica, vacila, erra, cai, exibindo toda sua fragilidade enquanto menina, a doce menina de sua mãe. Instantes depois quando incorpora o Cisne Negro mostra toda sua potência enquanto mulher, seu desafio, seu medo, seus desejos. Ela não só consegue interpretar o a Rainha dos Cisnes como vive e se torna ela, sua expressão muda, seu corpo, sua postura, sua atitude. É claramente a ruptura da repressão que ela vivia. No ato final, enquanto Cisne Branco, porém não mais frágil, a personagem vive a realização de ter sido perfeita em sua atuação, na fusão de seu lado sombrio e passivo.


Michelle Souza